INTRODUÇÃO
(indução para o leitor gostar deste texto)
  Trabalhos não deveriam ter introdução. O autor deveria, ao invés de dar explicações,  entregar uma caixa de fósforos ao leitor. Este poderia acender um cigarro, tocar um “sambinha” e ao final da leitura colocar fogo no texto. Caso aprovasse o que leu...  Bom, estamos no ano dois mil e fósforos ainda têm utilidade...  Todo  o texto deve se explicar por si  e a introdução deveria ficar sem razão. Mas tudo bem.  O homem vive de  inseguranças e de incertezas. E é disto que este trabalho vai falar. Este ensaio se propõe a mostrar que inseguranças e incertezas são o melhor do homem. É a capacidade do improviso, de dizer que vai dobrar a esquerda e no último milésimo de segundo virar a direita, de dar um beijo ou uma facada. A idéia deste ensaio partiu da leitura de um artigo de Jean Baudrillard. Em Deep Blue e a melancolia do computador[1], o filósofo francês mostra porque depois de uma derrota, o enxadrista russo Garry Kasparov consegue vencer o supercomputador. Este trabalho resume-se a isto: mostrar que falhar é uma qualidade do ser humano. Talvez a única que  torne possível derrotar a máquina. Este ensaio é um grito: sim, somos superiores as máquinas! 
Para desenvolver este tema recorri a autores estudados na disciplina de Sociologia da Comunicação, ministrada pelo professor Juremir Machado da Silva no primeiro semestre de dois mil , no curso de mestrado em Comunicação Social da PUC-RS. Contudo, ao longo do texto vão aparecer outros nomes. Estão lá Baudrillard e Morin. Mas também aparece David Bowie. Este  trabalho é dividido em “pequenas histórias”, nas quais tento ilustrar o que me leva a afirmar que o homem é superior ao computador. Por fim, gostaria de reforçar que o que você passa a ler agora não é paper, artigo, trabalho científico. É ensaio, ou melhor, tubo de ensaio. Experiências. O tubo é o papel, o suporte. O ensaio é o texto. E o texto é a vida lá fora (como gostaria de estar digitando no sol!). 
(um pouco sobre Baudrillard, Kasparov e Deep Blue)
Jean Baudrillard é o homem do simulacro. É o filósofo que fez de si mesmo representação. Ele é o que não é. Uma leitura rápida dos artigos/ensaios de Baudrillard nos leva a classificá-lo como amargo, mau humorado, ressentido com a humanidade.  Os títulos de seus textos parecem nos conduzir para esta avaliação: Após a orgia,  Espelho do terrorismo, Necrospectiva, O inferno do mesmo,  O melodrama da diferença, A hospitalidade viral[2], O continente negro da infância, A dupla exterminação, A sexualidade como doença transmissível, Ruminações para encéfalos esponjosos[3] .  Mas o que Baudrillard quer? Ele nos propõe uma leitura irônica do nosso tempo. Baudrillard não quer só humanitarismo. Para ele, é preciso transformação. 
Afirmei que Baudrillard é o que não é. Agora explico. Por trás de todo o peso que seus textos carregam existe um filósofo que acima de tudo ama o homem. Mais uma representação, um simulacro? Talvez. Pela beleza de Deep Blue e a melancolia  do computador parece que não. Incerteza (viva Morin!).
O filósofo abre seu ensaio destacando que o confronto entre um ser humano  e um artefato “inteligente” é altamente simbólico. De acordo com o autor, isto ocorre porque  sintetiza o dilema do ser humano frente às máquinas contemporâneas que utiliza. Para ele,  não há interatividade e sim um jogo de rivalidade e de dominação. Baudrillard destaca que o homem insiste em se manter mestre de suas criaturas. De acordo com o filósofo, o homem leva vantagem ainda, pois “para estar à altura do homem, a máquina precisaria tê-lo inventado” (Baudrillard, 1999, p. 138).
Para Baudrillard, a vitória do enxadrista russo[4] sobre   o supercomputador, depois de uma derrota, está clara:
“...se venceu é porque (metaforicamente) consegue falar várias línguas – a do afeto, da intuição, do estratagema, do jogo rápido, sem contar a do cálculo – enquanto Deep Blue só fala  a do cálculo. No dia em que esta prevalecer, seja como for, Kasparov será batido; o dia em que o próprio homem só falará essa única e exclusiva língua, a dos computadores” (Baudrillard, 1999, p.135).
Parece óbvio, mas é como afirmar que o homem venceu porque é homem. A vitória é do ser humano porque ele não passa de um ser humano. Kasparov venceu  Deep Blue porque falhou, por não ser lógico, pelo inesperado. Este é o ponto de partida para as próximas discussões.
[1] Ensaio/artigo do livro Tela Total (ver bibliografia).
[2] Textos do livro A Transparência do Mal (ver bibliografia).
[3] Textos do livro Tela Total (ver bibliografia).
[4] Em maio de 1997, em cinco partidas, Kasparov ganhou uma, empatou duas e perdeu mais duas. Em 1996, contra uma versão mais antiga do Deep Blue, o enxadrista russo ganhou uma série de cinco partidas, perdendo apenas o primeiro jogo – sua primeira derrota para um computador.
 

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